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Dor de cabeça (Parte II)

sex, 6 de junho de 2014 00:00

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1-Quais são os gatilhos que mais frequentemente disparam as crises de enxaqueca?
Sem sombra de dúvida, o álcool encabeça a lista das coisas que disparam a crise de enxaqueca. Do vinho tinto, principalmente, os pacientes reclamam muito, embora bebidas destiladas também façam parte do rol das queixas. Existe, porém, um inimigo que, em geral, as pessoas desconhecem e custam a identificar: o açúcar. Como o controle da glicemia depende também do sistema límbico e o hipotálamo desses pacientes funciona mal, o metabolismo do açúcar fica comprometido. Uma vez que grande parte deles é hipoglicêmica, oscilações bruscas para cima e para baixo ou a falta de resposta aos níveis variáveis de açúcar no sangue são fatores importantes para deflagrar a crise.

2-É indicado corta o açúcar de todas as pessoas que têm enxaqueca?
Não, obrigatoriamente. Se a curva glicêmica é normal, não há por que suspender o açúcar. Além disso, é necessário analisar cada caso separadamente. Chocolate, por exemplo, costuma ser um desencadeador de crises, mas existem chocólatras que preferem não fazer o tratamento a deixar de comer chocolate, pois garantem que esse alimento não lhes faz mal. Tudo é uma questão de bom-senso. Se não faz mal, podem continuar comendo. Caso contrário, devem suspender a ingesta desse alimento.

3-O que é aura?
Aura é o nome que se dá ao conjunto de sintomas neurológicos que, nas crises de enxaqueca, se apresentam geralmente um pouco antes da dor de cabeça. A aura visual é a mais comum. Pode se apresentar como flashes de luz, como falhas no campo visual ou imagens brilhantes em ziguezague. Outros sintomas neurológicos são mais raros.

 4-Todos os casos de enxaqueca, desde que orientados adequadamente, têm cura ou há casos incuráveis?
Existem algumas premissas a considerar. A primeira delas é que as crises de enxaqueca sejam muito antigas. Pode ser curada uma moça de 30 ou 40 anos, com uma história de 10 a 15 anos da doença. Para uma senhora de 60 anos com história de 50 anos de dor de cabeça, não se fala em cura. Fala-se em amenizar os sintomas, em melhorar o quadro clínico. No entanto, em qualquer um dos casos, é fundamental redigir um diário relatando a evolução das crises e a resposta ao tratamento. Por exemplo, episódios aleatórios de enxaqueca podem sofrer mudanças e transformar-se em dor de cabeça em blocos, isto é, em cefaleia em salvas.

O cérebro acha que é sua obrigação produzir dor de cabeça e, se a atacarmos de alguma forma, irá buscar outro mecanismo de neurotransmissores para produzi-la. Por isso é importante tomar analgésicos com cautela e usar medicamentos que atuem não só sobre os neurotransmissores na medida certa, mas também sobre os outros sintomas. Agindo assim, será possível chegar à cura da doença.

5-É possível evitar as crises?
Sim. A identificação de possíveis fatores desencadeantes das crises é fundamental para obter melhor controle da doença. Além disso, os pacientes podem tomar alguns cuidados:
·    distribuir adequadamente a carga de trabalho, evitando acúmulo no escritório e o estresse de levar trabalho para casa;
·    evitar estender o sono além do horário usual de acordar;
·    evitar fadiga excessiva;
·    fazer as refeições em horários regulares e não “pular” refeições; eliminar os alimentos identificados como desencadeantes das crises; reduzir a ingestão de café e chá; evitar o uso de analgésicos sem supervisão médica;
·    evitar exposição a luzes, ruídos e cheiros fortes;
·    não se exercitar em dias muito quentes.

6-Existe um tipo de dor de cabeça importante totalmente diferente da enxaqueca, a cefaleia em salvas. Quais são as características da cefaleia em salvas? Como a pessoa pode identificar uma crise desse tipo?
A enxaqueca pode levar uma hora para atingir o pico da dor. Na cefaleia em salvas esse pico é atingido em cinco minutos. Os sintomas são típicos e inconfundíveis. É uma dor pulsátil, violenta, unilateral que se manifesta num dos olhos, na órbita ou no fundo do olho, que fica vermelho e lacrimejante. Outros sintomas são queda da pálpebra, congestão ocular, obstrução nasal e coriza na área comprometida. A cefaleia em salvas é considerada rara responsável por 6% do total de casos de dor de cabeça. É mais comum em homens, numa razão em torno de 3:1 e pode iniciar-se em qualquer idade, sendo mais comum o início na segunda ou terceira décadas de vida.

7-Por que se chama cefaleia em salvas?
Em inglês, a expressão para designar esse tipo de dor de cabeça é cluster headache. Cluster significa concentração, aglomerado, agrupamento, por isso cluster headche era traduzido, na década de 1960, por cefaleia aglomerada, agrupada, em cachos, uma vez que cluster pode significar também cacho de uvas.

A enxaqueca surge aleatoriamente. É uma crise que vem e passa, embora possa reaparecer noutro momento. Na cefaleia em salvas não é assim. As crises vêm agrupadas e são diárias (de uma a oito por dia) durante um período que vai de dez dias a três meses. Esse agrupamento de crises desaparece de repente e pode demorar bastante para manifestar-se de novo, o que acontece de uma hora para outra e sempre com as mesmas características de concentração. Isso nos faz lembrar as salvas de tiros de canhão que, em determinadas ocasiões, interrompe o silêncio, dá 21 tiros e silencia outra vez. O tratamento é feito durante a salva, ou seja, o período em que o indivíduo fica suscetível à dor, devendo ser suspenso no período livre de dor. O tratamento preventivo consiste em uma medicação que irá evitar o aparecimento da dor e deverá ser tomada regularmente. Deverá ser iniciado tão logo se inicie a salva. O tratamento da crise é para reduzir o tempo de dor e varia desde o uso de medicamentos sublinguais e injetáveis até o uso de oxigênio úmido sob máscara.

8-O que você tem a nos falar da cefaleia tensional?
Dentre as cefaleias, a do tipo tensional, em sua forma episódica, é a mais frequente, muito mais do que a enxaqueca.
No passado, várias denominações se referiam a esse tipo de cefaleia: cefaleia de contração muscular, cefaleia de estresse, cefaleia psicogênica. Atualmente, a do tipo tensional está bem definida na classificação da Sociedade Internacional de Cefaleia (SIC), com critérios claros de diagnóstico.

9-Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico é clínico e geralmente não requer exames complementares. O exame neurológico é normal. A palpação dos músculos pericranianos deve ser feita rotineiramente. É fundamental obter história clínica detalhada das características da cefaleia, seu tipo, intensidade, localização, duração, periodicidade etc.
Em geral, os pacientes descrevem a dor como uma sensação de aperto, pressão ou peso envolvendo a cabeça como uma faixa ou capacete. A localização é bilateral, sendo a região occipital predominante, mas também as regiões frontal e apical. De intensidade leve ou moderada não impedindo as atividades rotineiras diárias. Não raro essa dor melhora com atividade física ou relaxamento. Normalmente não há sintomas associados como náusea e osmofobia e vômito não acompanha essa dor.

10-Como é feito o tratamento da cefaleia tensional?
O tratamento para a forma episódica são os analgésicos comuns ou os antiinflamatórios não hormonais. Para a forma crônica é utilizado habitualmente a amytriptilina na dosagem de 25mg a 75mg/dia em uma única tomada preferencialmente à noite. Neste último caso se o paciente estiver fazendo uso excessivo de medicamentos sintomáticos, é de fundamental importância orientar o enfermo suprimi-los para que o tratamento profilático seja efetivo.

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