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Coluna: Ortopedia em Foco (08/03)

ter, 8 de março de 2022 09:40

COVID E DOR NO QUADRIL, QUAL A RELAÇÃO?

 

Olá pessoal! Após a primeira coluna de apresentação, hoje iniciaremos temas sobre ortopedia. Então vamos lá!

A pandemia da COVID-19 trouxe inúmeros problemas para o sistema de saúde e aos seus usuários.

Da perspectiva ortopédica, ela foi responsável pelo adiamento de inúmeros procedimentos eletivos para que o sistema de saúde se dedicasse aos casos de covid, sendo assim, a fila de espera para artroplastia de joelho e quadril mais que dobraram, o que é bastante preocupante, pois são pacientes que estão com níveis de dor elevados a tal ponto de considerarem que seu status de qualidade de vida é “pior que a morte”, segundo vários relatos. Ou seja, patologias articulares graves como a artrose, necessitam de atenção do sistema de saúde para que o tratamento chegue a todos.

Porém, além desse aspecto citado acima, outra mazela nos foi apresentada. Estamos encarando uma pandemia de osteonecrose pós-coronavírus?

Mas o que poderia estar causando isso? O próprio vírus, ou alguma medicação está envolvida?

A resposta: os dois!

Estudos atuais indicam que o uso de glicorticóides (exemplo prednisolona, dexametasona), usados para o manejo da síndrome respiratório causada pela Covid, pode ser uma “faca de dois gumes”, pois há evidências que seu uso, em doses altas ou até mesmo baixas (paciente com diabetes), uso prolongado (por mais de 25 dias) ou automedicação sem acompanhamento médico, podem promover a destruição do quadril secundária a osteonecrose.

Outro fator causal dessa relação de osteonecrose e covid, é a ação direta do vírus, que pode provocar uma alteração no metabolismo ósseo, causando uma síndrome pró trombótica, ou seja, pode ocorrer uma obstrução da irrigação de sangue para a cabeça do fêmur, dando início ao seguinte ciclo: infarto ósseo, perda da sustentação do osso da cabeça femoral, colapso e falha do quadril, e por último deformidade da cabeça femoral e artrose.

Mas este aumento é expressivo? Sim.

Trabalhos recentes mostram um aumento que varia em até 58% de incidência desta patologia, sendo que, destes casos, a grande maioria já apresenta alterações no quadril de maneira precoce (3 meses), tendo uma variação entre predominante de 6 meses a 1 ano. O restante, pode apresentar sintomas em até 3 anos após a Covid.

Mas qual é o perfil de paciente que tem a maior taxa de acometimento?

Pacientes com casos graves de Covid, com necessidade de internação. Além disso, o mais preocupante é que a faixa etária mais atingida é o adulto jovem (20 a 49 anos), fase da vida mais ativa em todos os aspectos (social, profissional, lazer, atividade física), sendo que uma osteonecrose do quadril, nesta idade, pode causar limitações devastadoras, trazendo perda da qualidade de vida de maneira ainda mais marcante do que no idoso.

Dessa maneira, há um grande risco de um paciente jovem ter que se submeter a uma prótese de quadril precocemente.

E a história não fica só nisso, além do quadril, outros locais podem ser acometidos, tais como outras articulações e músculos, promovendo dores articulares, fraqueza, atrofia, fragilidade óssea e fadiga.

Que fique claro que os corticóides não devem ser abolidos devido a essa correlação, mas devemos ficar atentos em quem fez seu uso e sempre ser administrado por indicação médica precisa e consciente.

Depois de toda essa explicação, é natural criarmos certa ansiedade, mas então o que devemos fazer?

A palavra chave é diagnóstico precoce. Dessa maneira, o ortopedista poderá agir antes que se instale uma deformidade irreversível no osso acometido.

Qual o exame é feito para este diagnóstico precoce?

O padrão ouro é a ressonância magnética, que nos mostra a localização e o grau da lesão. Outra forma importante de diagnóstico, é ficar atento aos sintomas de dores na região.

O momento ideal para realizar o exame é entre 4 a 6 semanas após o uso de corticóide/infecção por Covid ou em qualquer período, se houver sintomas, sendo importante lembrar que pode ser repetido 1 ano após, pois, lembre se que os sintomas podem vir de maneira tardia.

Somando isso, conseguimos realizar um diagnóstico precoce e preciso, sendo possível então iniciar o tratamento de preservação do quadril, sendo que possuímos várias ferramentas para tal.

Sendo assim, a osteonecrose da cabeça do fêmur, possui inúmeras causas possíveis (alcoolismo, tabagismo, doença sistêmicas, outras medicações, trauma, doenças da infância) e a pandemia nos trouxe mais um fator de risco.

Pressupondo que a ciência é um discurso pronto para ser refutado e transformado para a evolução da medicina, ainda são necessárias mais pesquisas sobre este tema.

MENSAGEM DO DIA: Dor no quadril após uma infecção por Covid não é normal, podendo ser uma doença grave desta articulação, assim é primordial realizar o diagnóstico precoce para iniciar o tratamento o quanto antes e preservar o seu quadril.

Escolha um ortopedista de sua confiança, e CUIDE DO SEU QUADRIL!

Conhece alguém que pode estar com esta doença? Divulgue estas informações, e estou à disposição para dúvidas e ajuda-los no que puder.

Até a próxima!

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