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Coluna: Pergunte ao Doutor (08/08)

sáb, 8 de agosto de 2020 12:04

Abertura-pergunte-ao-doutor

 

Peço licença aos leitores, mas hoje a coluna “Pergunte ao Doutor” não tratará sobre o tema.

Falarei do salvador de vidas. O melhor que já vi em toda a minha existência: Dr Paulo Leite.

Nascido na pequena cidade do sul de Minas Gerais, Itumirim, ainda criança, foi com a família, que era do ramo de laticínios, morar em Pires do Rio -GO. Daquela cidade, saiu para estudar medicina, sua vocação e, atrevo-me a pontuar, sua obsessão, na Universidade Federal do Triângulo Mineiro, em Uberaba das Minas Gerais.

Cardiologista desconhecido, foi para a maior cidade da América Latina. Lá, sua competência e amor pela medicina o fizeram diretor de um dos maiores hospitais da época, o Hospital Matarazzo, e também o levaram a servir o destacado Instituto Butantã.

Mesmo com todo o trabalho desenvolvido na grande São Paulo, quis o destino, que em meados dos anos 70, ele se mudasse com a família para Araguari.

Aqui, na nossa querida cidade, seu conhecimento, destaque e arrojo, trouxeram grandes avanços para a saúde. Dentre eles, posso citar a inauguração da primeira UTI da região do Triangulo Mineiro, no Hospital São Sebastião.

Eu, filho de Araguari, desde pequeno, via aquele homem magro de “roupa cinza” (na época não se usava o branco) com sua maleta inseparável, e ficava admirado.

Comecei a acompanhá-lo em algumas consultas, ora no Hospital, ora nas visitas domiciliares. Sempre via o seu significado ético para com a medicina e o compromisso com os doentes.

A famosa tríade médica “ver, sentir e escutar”, foi ele quem me ensinou. À primeira vista, pareciam procedimentos simples, mas ali, ele me fez descobrir as primeiras pistas para um diagnóstico certeiro.

Pensando na sua prática médica, entendo que o Dr. Paulo Leite vive como escrito no livro O Pequeno Príncipe: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Ele é assim: ao cativar, entrega-se, doa-se.

Quando eu dizia que seguiria seus passos, ele me alertava : “É preciso estar muito certo quando se escolhe a medicina, lembre-se: O PACIENTE É O AMOR DE ALGUÉM!” Escuto essas poucas palavras desde a mais tenra idade. Meu pai: uma lenda viva da medicina é um homem que sempre ofereceu consolo a cada paciente que passou pelas suas mãos grandes, fortes e suaves.

Na última semana, recebi em meu consultório de neurologia, uma senhora com 70 anos, que havia sido paciente de meu pai, há cerca de 30 anos. Ela me contou com muita emoção tudo aquilo que este “grande médico” (palavras dela) fez por ela e sua família, durante um dos piores momentos da sua vida. Ela descreveu com detalhes, desde a maneira como ele a cumprimentou na sua chegada e lhe explicou com ciência e otimismo sobre a doença que a acometia, até o momento em que a abraçou quando se despediram. Assim, ela referiu: “o abraço da segurança”.

Uma vez meu pai escreveu sobre a maneira de proceder do médico, dizendo: “O médico verdadeiro não tem o direito de acabar a refeição, de escolher a hora, de inquerir se é longe ou perto”. Dr. Paulo afirma que técnica médica todos podem aprender, mas fazer a diferença na vida daquele ou daquela paciente vulnerável, respeitando seu sofrimento, sua forma de compreender o que está acontecendo com seu corpo, suas crenças, sua cultura; isso diferencia os verdadeiros médicos.

O que pensar sobre um médico que, na maioria das vezes, só na palpação do paciente consegue perceber mais do que um exame de ultima geração? Que é capaz de diagnosticar uma neoplasia do fígado, com metástase óssea, mesmo com “exame laudando tudo normal”? Seria algo sobrenatural? Eu afirmo que não. Todos esses feitos são frutos do estudo, dedicação e amor à profissão e ao ser-humano. Quem o conhece e divide com ele suas colocações já ouviu em suas conversas a fala e cobrança pessoal de que na medicina não dá pra ser mediano ou fazer mea-culpa, muito menos ser medíocre nas ações e negligenciar o cuidado. Ele acredita na entrega, porque só se entrega aquele que ama. Eu contribuo, neste momento, apontando que, com o passar do tempo, se não houver entrega, você se torna técnico e passa a não ser médico… E deixe eu lhe contar um segredo: há uma grande diferença entre eles…

Portanto, para o meu pai, não é só uma profissão, é a escolha de uma vida; é uma marca que carregará até o fim dos seus dias. É a convicção de que o tempo, muitas vezes, é subtraído da sua existência e doado para outrem que, na maioria das histórias, nunca vimos antes ou conhecemos direito.

Parece um preço alto, né? Mas sabe… para quem ama o que faz, isso não tem preço! É inestimável salvar alguém, aliviar suas dores, amenizar seu sofrimento! É imensurável o amor que emana deles, a fé, a gratidão, a troca, os laços criados, e isso é que transforma a medicina em vida!

Curar é ótimo, tudo é festa. Mas quando encontro alguém que me diz: ‘o senhor cuidou do meu avô, ele veio a falecer, mas foi tão bem, tão tranquilo’, recebo como um elogio até maior (mesmo sem festa) porque é a essência da medicina aliviar o sofrimento humano.

Meu querido e amado pai diz: “Deus nos deu dois ouvidos e uma boca apenas por uma razão: para ouvirmos mais do que falarmos”. Sabedoria popular que poucos livros e professores te ensinariam e que faz toda a diferença na profissão que tenho a alegria de seguir ao lado dele.

Paulo Leite me ensinou que médico é um título, mas o exercício da medicina é muito mais que um nome; é amor, é um dom divino.

Enfim, aprendi em casa que medicina é uma profissão que se mistura com missão. É uma paixão.

Ao meu melhor médico e melhor professor: feliz dia dos pais.

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